Linguisteria 1
​Através dos conceitos de holófrase e intervalo extraídos da obra de Jacques Lacan, o grupo busca avançar nas noções nosográficas em psicanálise, abordando as antigas noçoes psicopatológicas através das conquistas teóricas da teoria da linguagem chamada linguisteria, promovida pelo psicanalista francês e seus leitores.
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Índice de Textos
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O mal-estar na cultura moderna e a particularidade de cada sujeito*
Josiane Tibursky
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À luz do capítulo 1 do volume I do Estruturas clínicas a partir de Lacan, de Eidelsztein, fica claro por que nós, analistas, sustentamos — e por que é tão importante que o sustentemos — que não existe homem, mulher ou ser humano. Ao fazermos isso, estamos apontando para a lógica da operação significante, estamos defendendo a presença do sujeito em sua ausência, estamos mantendo a incompletude do Outro, lógicas sem as quais nossa prática simplesmente não existe.
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Nosso objeto de estudo é furado, incompleto e, ainda por cima, deslizante, evanescente. Podemos até entender o ímpeto de tamponar essa falta, o que não podemos é aceitar — ou, ainda pior, contribuir para — o fechamento ou a tentativa de fechamento desse buraco no nosso campo. É isso o que nosso analisante faz o tempo todo — e bem sabemos que é exatamente por isso que ele sofre —, então não podemos negar essa falta, pois é justamente com ela e a partir dela que operamos, é ela que permite e está por trás de cada conceito psicanalítico.
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O sujeito que a ciência tenta apagar, negar-lhe espaço desde o apagamento da primeira pessoa, com seu tratamento impessoal da letra, é o mesmo sujeito que nós, analistas, queremos que se apresente. Não nos interessa a validade de um enunciado, e sim a incidência subjetiva da verdade; porque a verdade tem a ver com o dizer, não com o dito; é o ato de dizer que dinamiza, dialetiza, mobiliza o sujeito. E é esse movimento que nos interessa; é a abertura desse espaço que buscamos. Só é possível caminhar quando se aceita e se aprende minimamente a operar com a instabilidade, e, de modo análogo, nosso analisante só vai ver seus sintomas caírem quando também ele aceitar e aprender minimamente a operar com essa incompletude, aprendendo a habitar onde não “é”.
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A psicologia, enquanto ciência moderna, segundo Eidelsztein, realizou “a maior e mais prestigiosa manobra objetivadora que já existiu”, transformando o sujeito em objeto de estudo, um objeto de conhecimento científico, suturando-o a ponto de poder dar-lhe unidade: o homem/ser humano. E desse apagamento das diferenças das particularidades próprias da condição subjetiva decorrem “efeitos de mal-estar muito especiais na subjetividade moderna”. Seguindo nessa lógica, não precisamos ser gênios para perceber que a tentativa de manutenção dessa “unidade”, dessa “totalidade”, vai acarretar uma dificuldade extrema em operar com o diferente, desembocando em fanatismos religiosos e segregação do próximo.
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E qual é a ética da psicanálise, enquanto resposta terapêutica ao mal-estar na cultura moderna, a esse estado da arte? Ela justamente oferece a recuperação da condição particular de cada sujeito (ou seja, a inclusão da sua verdade e do seu desejo, sem a exclusão do próximo — é fundamental que se saliente), para atenuar o sofrimento excessivo, partindo de um discurso racional e formalizado. Atentemos para “excessivo”, senão, vamos nós, nos últimos minutos da prorrogação, também suturar o buraco.
* texto para o encontro de Linguisteria 1 do dia 01/10/2025
A psicanálise com resposta ao mal-estar do sujeito moderno
Patrícia Mezzomo
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A revolução científica que culmina com o nascimento da modernidade, opera um corte epistemológico com o pensamento medieval e traz, não somente novas descobertas, como também inaugura novas formas de pensar sobre o conhecimento, sobre o saber e sobre a realidade.
Antes disso, tudo estava dado ao homem medieval. Tratava-se de um homem que sabia sobre o seu fazer e existir, pois esse saber encontrava-se alicerçado em um tipo de saber religioso, divino, que lhe determinava enquanto homem e quanto ao seu destino. O homem medieval não duvidava. Isso não significa de maneira alguma, afirmar que ele não sofria, pois sabemos que existe um mal estar inescapável a todo sujeito falante. Esse mal-estar que se sustenta sobre um fundamento de linguagem, sofre modificações de acordo com as mudanças culturais.
O mal-estar do sujeito medieval era radicalmente diferente do nosso, pois estava ancorado em uma estrutura de mundo e um sistema de crenças completamente distintos. Para o homem medieval, o mundo era um palco onde a vida era um teste de sua fé. O maior sofrimento não vinha de um conflito psicológico interno, mas do medo da condenação eterna e da perda da graça divina. A vida terrena, com suas dores e privações, era vista como uma penitência ou uma oportunidade de purificação para alcançar a salvação da alma.
A transição de um saber divino para um saber científico irá, portanto, moldar um novo tipo de humano e, com ele, um novo formato de mal-estar específico de sua época. Dirigir-se à ciência e não mais a Deus, implica uma modalidade muito peculiar de relação do sujeito com o Outro. Podemos então, entender que o grande Outro do sujeito moderno é a ciência.
Sujeito moderno, porque é ele, justamente esse novo tipo de homem, efeito de seu tempo, efeito da ciência. A sociedade ocidental moderna é caracterizada como "sociedade científica" e os sujeitos de tal sociedade serão, consequentemente, "sujeitos da ciência". Evidentemente é muito diferente se dirigir a um Outro concebido, por exemplo, como um único Deus personificado ou como uma ciência impessoal e anônima. Isso tem efeitos importantíssimos, sendo o principal deles o sujeito dividido, que Lacan escreve como "S".
Em nossa sociedade moderna o mal-estar, portanto, possui íntima relação com a ciência que pode ser entendida como uma manobra sobre o saber. E, por saber, desde o corte mítico operado por Sócrates, entende-se como uma ligação entre os significantes vinculada a certas exigências de coerência e razão.
É aqui que se encontra o operador fundamental que produz o sujeito dividido da ciência. A ciência, ao operar com a exatidão, a adequação do que é dito sobre algo com o que esse algo é, não permite que a verdade subjetiva do cientista cumpra papel algum em suas argumentações ou teorias. Nunca o que é verdade para alguém, por mais prestigioso que seja, pode ser a justificação de nenhum enunciado científico. Entre estas condições gerais exigidas pelo método científico, a verdade do sujeito foi erradicada.
Diante disto, temos a formulação do mal-estar moderno. Não se trata mais de condenação eterna, mas sim, de um apartamento da verdade, pois o saber científico foraclui a verdade.
E é exatamente como resposta a esse mal-estar específico do sujeito moderno que surge a psicanálise, pois, como já apontado por Freud, ela restitui a função da verdade no campo do saber científico. Em síntese, a Ciência é uma manobra sobre o saber que produz o sujeito e foraclui a verdade. A psicanálise, por sua vez, restitui a função da verdade no campo do saber científico, sendo ela a resposta adequada ao mal-estar da linguagem.
Cabe então ao psicanalista, apoiado na formalização proposta acima, operar o ato de abertura que tem como finalidade o campo do sujeito. Se a ciência tenta operar uma manobra sobre o saber que foraclui a verdade, o ato seria então o corte que se abre para a verdade? Acredito se tratar aqui de uma verdade que é particular a cada um. Uma verdade que não coaduna com um saber estabelecido e provavelmente vá contra. Seria o que Lacan chamou como a verdade do desejo? Por lógica então, a ciência tenta erradicar o desejo do cientista?. Mas é possível fazer ciência, ou qualquer outra coisa, sem desejo?
Em seu texto sob a subversão do sujeito e a dialética do desejo, Lacan aponta que essa tentativa de erradicação do sujeito fracassa no campo científico, ou seja, o sujeito insiste em se apresentar, mesmo quando não “convidado”. O que me prende diante de uma dúvida: a ciência foraclui realmente o sujeito ou apenas tenta e por isso fracassa? Se ela fracassa em foraclui-lo, ele estaria então participando da ciência? Se o sintoma é o indicador do desejo, por conclusão, a ciência seria o sintoma do homem moderno? A ciência é a tentativa de responder à questão do sujeito, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, tenta excluí-lo da resposta?
Evidentemente não seria pertinente esgotar o tema em tão poucos caracteres. Encerro portanto com estas perguntas que se propõem a abrir o tema da articulação entre ciência, sujeito e verdade, seguindo a indicação de que é na abertura e não no fechamento que encontramos o espaço para o sujeito e para a psicanálise.
A psicanálise como a terceira via
Patrícia Mezzomo
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Com o surgimento da ciência e do homem moderno, vemos surgir também o anúncio de um novo mundo, o antropocentrismo, onde o lugar central agora é ocupado não mais pela autoridade divina, mas sim por um saber racional, lógico e metodológico.
Está dado que temos um novo tipo de homem, uma nova forma de manobrar o saber, e também um novo tipo de mal-estar. Mas, como sabemos em psicanálise, o sintoma, aqui denominado mal-estar, sempre traz consigo uma mensagem ainda não decifrada.
Ocupar o centro do mundo não parece pouca coisa. Desconfio que esse lugar do centro possa ser o indício que culmina em tantas tentativas de responder e solucionar o mal estar produzido por tal “cargo”. Mas como esse “maquinário” de sofrimento moderno funciona?
A ciência surge como um novo tipo de manobra sobre o saber, ocupando o lugar do saber divino. Essa manobra exige uma lógica racional, com suas regras que produzem como efeito colateral, o sujeito. Tanto sujeito, quanto ciência, estão agora submetidos a regras rígidas, que erradicam a subjetividade humana. E como sabemos, que toda erradicação costuma trazer a reboque, o sintoma, é disso que se trata aqui. De um recalque do subjetivo em nome de uma garantia totalitária.
Deus foi deposto, mas a busca do Grande Outro Completo parece não ter caído junto com a ordem divina. Estamos sempre tentando fazer sutura com alguma garantia total, sem falhas, que nos dê conta das faltas e dos furos que são intrínsecos a qualquer ordem simbólica. E tudo que não se encaixa nessa totalidade, tende a ser posto “de lado” retornando como sintoma, como diria o próprio Freud.
No texto de Eidelsztein - As estruturas clínicas a partir de Lacan - ele nos apresenta de maneira muito clara, a operação dessa lógica moderna que divide o sujeito causando o mal-estar da nossa atualidade e as tentativas de fazer sutura a partir de diversas modalidades que almejam responder ao que ficou de fora, buscando trazer de volta a verdade na forma da subjetividade do sujeito.
A própria ciência tenta fazer sutura do sujeito que ela mesma produziu. Para isso, ela usa de artifícios como a lógica simbólica e a psicologia.
Com a lógica simbólica vemos a tentativa de criar um sistema de pensamento puro e perfeito, alicerçado numa linguagem superior idealizada, batizada de metalinguagem, no Outro Completo representado pelo universo do discurso. Nela, a separação entre verdadeiro e falso reduz a verdade a um valor binário e estático, ignorando a força dialética e o movimento que ela tem para o sujeito.
Já na psicologia a manobra de sutura é feita na transformação do sujeito em objeto de estudo, chamando-o de “Homem”. O sujeito é tomado em uma aparente unidade, perdendo toda possibilidade de condição particular e podendo então ser um objeto de conhecimento científico, erradicando o efeito sujeito, na tentativa de suturá-lo, por meio da objetivação.
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Ambas as abordagens tentam dar conta do sujeito pela via da totalidade, mas ele insiste em se apresentar no particular. A tentativa de sutura é falha em seu alicerce: a própria ciência se contradiz nessa suposição de Outro completo com o teorema de incompletude de Gödel, o princípio de incerteza de Heisenberg e a pesquisa de Church, que surgem para provar que a ordem simbólica é, por natureza, incompleta.
Essa verdadeira usina de mal-estar causada pela universalização gerada pela ciência e pela psicologia, onde todos os sujeitos são considerados igualmente, apagando assim as diferenças particulares próprias da condição subjetiva, resulta em efeitos muito especiais na subjetividade moderna.
Vemos entre eles a política de segregação e o que Freud chamou de "narcisismo das pequenas diferenças", onde os seres humanos modernos, aqueles do final deste século, desesperam-se tentando encontrar a diferença que fundamenta sua identidade.
No campo religioso e místico, surgem respostas ao mal estar, objetivando um retorno ao irracional, que foi gradualmente erradicado pela racionalidade científica e que contempla a função da verdade subjetiva. A ciência impõe por toda parte um discurso racional que exclui a verdade. Os fanatismos religiosos reintroduzem essa verdade, mas com base na discriminação e na irracionalidade das explicações.
A psicanálise, então, surge não como uma ciência ou religião, mas como uma terceira via, um discurso formalmente comunicável que se oferece para a recuperação da condição particular de cada sujeito.
Temos aqui diferenças interessantes no ferramental moderno para lidar com o mal-estar humano.
A ciência constroi sua própria versão de sujeito como um ser totalmente racional, sem falhas de memória e sem ambiguidade se alinhando a uma fantasia de totalidade imune ao furo. A religião tenta reintroduzir a verdade com base na irracionalidade das explicações, mantendo uma garantia divina detentora de um saber total. Já a psicanálise opera no sentido oposto, sem fazer sutura. O que interessa está no espaço, na hiância. Nesse quesito, parece ser a única resposta que não recorre ao tamponamento, mas sim à formalização da falta.
Ao formalizar, ela não responde, não fecha, mas abre. Abre ao particular e subjetivo de cada sujeito. Traz de volta a verdade, não como resposta mas sim como espaço, mantendo o campo da falta.
Descentraliza o homem antropocêntrico, detentor de um saber coletivo e enganoso sobre si mesmo, para deixar o lugar vazio da verdade de seu desejo, que é sempre faltoso e nunca pode ser totalmente sabido.
O iluminismo psicanalítico
Patrícia Mezzomo
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Se Giordano Bruno foi queimado e Lacan excomungado, se Galileo manteve-se fiel a igreja e Miller adapta Lacan criando seu freudolacanismo, estaria Eidelsztein inaugurando finalmente o iluminismo psicanalítico?
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Acompanhar a obra do autor das Estruturas Clínicas a partir de Lacan nos faz travar contato com uma experiência de iluminação teórica da obra lacaniana. Eidelsztein inaugura a modernidade da psicanálise com o mesmo gesto que a ciência assume ao fundar-se diante da igreja: questionando a autoridade religiosa do nosso campo e instaurando um método alicerçado na lógica. Não mais nos serve a autoridade dos nossos patres familias. O que nos interessa é a fórmula matemática do significante.
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Se a repetição é fruto da linguagem, aqui vemos o campo psicanalítico repetir a história. Com um certo atraso, é claro, mas ainda assim, repetição. Intriga-nos, no entanto, o fato de tentar entender como nosso campo conseguiu até então operar com o sujeito da ciência — o sujeito moderno — utilizando uma psicanálise “medieval”? O que estava sendo feito do nosso ofício, já que, como disse o próprio Alfredo, argumentos sem validação racional não diferenciarão a psicanálise das outras respostas ao mal-estar?
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Mas deixemos essa pergunta ecoar, para nos focarmos, por enquanto, na proposta de Eidelsztein. O rigor do raciocínio científico nos possibilita desbancar o reinado religioso dos nossos mestres, mas sem que percamos de vista suas obras. O entendimento das obras de Freud e Lacan — como dois autores separados — importa à psicanálise como lógica para elaboração de conceitos, e não enquanto a genialidade dessas autoridades. Essa é a urgência do “iluminismo psicanalítico”.
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Não há mais o pai garantidor, mas sim a lógica racional. Sai a garantia fundada na autoridade do dito freudiano e entra a investigação de saberes alicerçada em racionalidade, método e rigor. Repetir o dito de autoridade sem a lógica é fazer da clínica uma religião. É assim porque Deus Freud “quis”. A teoria ganha seu então status de privilégio e se torna a norteadora da nossa ética clínica.
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É isso, e apenas isso, que pode fazer a psicanálise posicionar-se como uma terceira via de resposta ao mal-estar, diferente da religião, da magia ou da própria ciência. É com o conhecimento teórico do objeto psicanalítico — o sujeito como uma questão de linguagem, fruto da manobra científica sobre o saber — que nos habilitamos a operar uma ética apropriada ao seu sofrimento.
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Temos então nosso objeto: o sujeito dividido, criado e erradicado pela ciência. E temos a ferramenta "iluminista" para operar: uma teoria que deve prevalecer sobre a experiência clínica. E é aqui que adentramos o terreno complexo.
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Por décadas, fomos testemunhas dos estragos que o privilégio da prática em detrimento da teoria causou e ainda causa em nosso campo. Temos agora uma inversão deste lugar de destaque: a prática deve ser norteada pela teoria. Mas, se é uma questão de lugar privilegiado, como não incorrermos no mesmo erro? Privilegiar a teoria não nos levaria a foracluir os fenômenos clínicos como verdade subjetiva de cada caso particular? Se a história da psicanálise como "religião" (privilégio da clínica) se manteve na lógica medieval, tomar o caminho da "ciência" (privilégio da teoria) não seria fechar a questão, fazendo uma sutura teórica e assujeitando a clínica?
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Se a psicanálise não é nem religião, nem ciência, mas uma terceira via que "não tampona, mas abre", que tipo de resposta ela deve propor?
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A resposta está na própria estrutura do problema. O que devemos questionar não é "teoria ou clínica?", mas o próprio privilégio. "Não fechar, pois quem fecha é o falo." E nessa lógica, a hierarquia e o privilégio fazem as vezes de falo, subjugando o que não possui seu status de superioridade. Para extrair a falta na clínica, retirando o analisando da lógica fálica, é necessário que seus significantes percam seu status de privilégio. Por que isso não deveria ocorrer ao nosso ofício?
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Privilégio e hierarquia denunciam, então, que experiência clínica ou rigor teórico racional, separados de seu par, estão apenas pondo em ação a regra sintomática do neurótico fálico que, sem perceber, segue tamponando os furos que ele mesmo abre.
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A lógica da hierarquia é excludente, pois sempre mantém um ponto de referência como verdade. Sempre que se tenta totalizar, é a lógica da exclusão que se apresenta, pois o que não for igual deverá arder nas chamas de Salem. A heresia é o diferente. Será que esquecemos que o significante tem como lógica a diferença em si mesmo?
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MAS... E se a "teoria" que vier primeiro for a "lógica da falta"? Parece que aqui encontramos a saída. Se a "teoria" que orienta a práxis é a de que o Outro é incompleto, de que "não há verdade da verdade" e de que "não há metalinguagem", então essa "teoria" não é um saber fechado ou uma cosmovisão. Ela é o oposto de um privilégio; ela é a formalização da própria impossibilidade da hierarquia.
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O "iluminismo psicanalítico" de Eidelsztein, então, não é trocar a "religião" pela "ciência". É usar o rigor lógico-racional para formalizar a própria incompletude. É uma teoria que não tampona a clínica com um saber-mestre, mas que opera como a própria condição de abertura para o espaço onde a verdade-ficcional do falante possa emergir. Não se trata de uma hierarquia, mas da única práxis que, ao saber da falta no Outro, pode escutar a singularidade do sujeito.
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Resta-nos saber se seus seguidores o lerão enquanto teórico ou como mestre.
